Uma mãe e seu filho diagnosticado com leucemia. A dor, o amor e a luta pela cura do seu pequeno de seis anos levaram Darcy Romboli Carvalho a fundar a Ação Solidária Contra o Câncer Infantil (ASCCI), estendendo sua mão a crianças e famílias durante o tratamento da doença. Um apoio que ela mesma não teve. Conheça essa história inspiradora que, sim, ganhou um final feliz: http://viveragora.com.br/gente-que-inspira-darcy-romboli-carvalho/
“Quando as mãos se entrelaçam, a dor diminui” é o seu lema
Pelos corredores do Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (ITACI), Darcy Romboli Carvalho, de 67 anos, é carinhosamente conhecida como tia Darcy. Isso porque está presente em cada momento do tratamento, prestando apoio às crianças, mães e pais como se fosse alguém da família.
Sua história com o câncer infantil começou nos anos 1980, quando seu único filho com então seis anos de idade foi diagnosticado com leucemia. Por isso ela diz que entrou nesse mundo “pela dor e pelo amor”. Hoje Fabio, seu filho, com 40 anos, está curado e é pai.
“Câncer nos anos 80 era igual a uma sentença de morte, não tinha cura e, embora tenha sido diagnosticado precocemente, deram apenas dois meses de vida para ele. Parecia que o chão estava se abrindo e eu estava sendo sugada e não tinha ninguém para me dar as mãos para eu sair desse buraco enorme que é ter um filho portador de câncer”, explica Darcy.
Fabio acabou encaminhado para tratamento no Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo, onde Darcy pôde conhecer a realidade de diversas famílias que enfrentavam a mesma doença.
“Eu falo que foi uma missão que nós viemos cumprir aqui na Terra, porque eu tinha recursos, família estruturada e muitos amigos. Mas vi que no mesmo barco que eu tinha mães de todos os Estados do Brasil e de todas as condições. Além da dor de ver o sofrimento do filho, tinha mãe que passava fome e frio.”, explica.
A partir disso, mesmo em meio às preocupações dos tratamentos dos filhos, a família de Darcy e outras três se juntaram para ajudar outras. Eles contaram também com o suporte do médico Vicente Odone Filho, professor no HC. “A primeira coisa que fizemos foi pedir para nossas famílias confeccionarem gorros e meias de lã para crianças, depois começamos a distribuir cestas básicas para as famílias e então a comprar remédios que, em sua maioria, eram importados e de altíssimo custo”, diz Darcy.
Com isso, em 17 de março de 1984, nasceu a Ação Solidária Contra o Câncer Infantil (ASCCI), uma entidade sem fins lucrativos que foi criada para auxiliar as crianças e famílias durante o tratamento do câncer. Hoje o presidente da associação é Fabio Romboli Carvalho, filho de Darcy, que após dois anos e meio de tratamento se curou e continua engajado nesta causa.
E as contribuições da tia Darcy não pararam até hoje. Nos anos 1990, ela e o doutor Vicente começaram a sonhar a construção de um Instituto exclusivo de tratamento da doença, que poderia atender mais pacientes do que estavam conseguindo dentro do Instituto da Criança, no Hospital das Clínicas.
Com muito esforço e muitas doações, nasceu em 2002 o ITACI, onde até hoje tia Darcy atua. Sua construção foi uma parceria entre a ASCCI, o HC e a Fundação Criança. Começou a partir da cessão de um terreno da Prefeitura de São Paulo com a fundação construída pelo Governo do Estado de São Paulo e foi subindo tijolo a tijolo com doações de artistas (Projeto Samba Cura, com Leandro Lehart), empresas e pessoas que acreditaram no projeto.
Ligado ao Instituto da Criança do HC, hoje o hospital é referência no tratamento do câncer infantil e outras doenças hematológicas ou raras. Também se diferencia pelo tratamento humanizado.
Após mais de 30 anos de trabalho, tia Darcy continua ativa, diariamente no hospital, dando apoio às famílias e crianças e lutando pela melhoria contínua dos tratamentos. Hoje ela é responsável pela captação de recursos, compra de medicamentos específicos e coordenação geral das equipes de voluntariado.
Regina Célia Seriacopi resume o sentimento das famílias: “a Dona Darcy é um anjo que Deus colocou para construir esse hospital para receber estas crianças”. Ela conviveu durante mais de um ano com a rotina do ITACI, durante tratamento de sua filha, Marília Seriacopi de Sylos.
“Ela me acolheu com palavras tão carinhosas e tudo aquilo que ela me falou no dia em que chegamos ao hospital, com a Marília na UTI, me manteve firme, me ajudou e me ajuda até hoje. Ela nunca nos abandonou, esteve todos os dias ao nosso lado. Ela carrega todo mundo no coração como se fossem seus filhos e seus netos.”, destaca Regina.
E esse é o centro do trabalho da ASCCI. “Nós, voluntários, lutamos muito pela humanização. Nosso lema é: Desde 1984 humanizando o tratamento do câncer infanto-juvenil”, diz Darcy.
“É por coisas assim que a gente luta: um simples hemograma levava de três a quatro horas para ficar pronto e as crianças tinham que chegar às 6h da manhã, fazer o exame e ficar esperando o resultado para a consulta. Um dia, um pai perdeu um filho em um hospital particular aqui de São Paulo e teve tratamento inadequado do convênio, processou e ganhou a causa. Ele conheceu nosso trabalho e nos doou há aproximadamente oito anos os R$ 25 mil do processo e compramos um aparelho que em 20 minutos dá o resultado de 60 exames! Nesses pequenos grandes detalhes a gente faz muita diferença.”, explica a voluntária.
Entre as frases que movem sua vida, as mais importantes são: “o câncer tem cura” e “quando as mãos se entrelaçam, a dor diminui”.